Afonso
da Silva, foi massagista de atletas de vários esportes e técnico formador de
grandes jogadoras do handebol feminino, profissionalizando esse esporte em
cidades como Sete Lagoas, Vespasiano e Pedro Leopoldo. Trabalhou nos colégios
Frei Orlando e Santa Inês. Atuou na seleção mineira de voleibol. Ajudou a
inaugurar o CEU e o Mineirinho. Foi também campeão de atletismo, ginástica e
tênis de mesa em Minas e no Brasil. Não se considera professor, mas um técnico
de handebol. Emocionado, confessa que nunca fora antes homenageado e teve a
oportunidade de falar de seu trabalho como esportista através desta entrevista
ao jornal Cidadão do Mundo.
José
Ataíde Lacerda é natural de Caratinga/MG. Formou-se em educação física, no ano
de 1960. Marcou época no Estadual Central e na Escola Estadual Sagrada Família,
onde formou atletas de renome internacional, como o próprio Canhão do handebol,
um de nossos entrevistados. Apaixonado também por vôlei, basquete e atletismo,
dentre outros esportes, introduziu em suas aulas conceitos inovadores como
maratonas, corridas rústicas e até teatro. Conhecido por seu estilo exigente e
também afetuoso, foi um segundo pai para diversos alunos, tornando-se um dos
grandes mestres do esporte mineiro, brasileiro e porque não, do mundo.
Canhão: Tive o privilégio de estudar na Escola Estadual Sagrada Família. Eu nasci no bairro Boa Vista, aqui em BH. Naquela época, o Ataíde era meu professor. Eu havia parado de treinar, pois meu tênis havia furado. Ao saber disso, o Professor Ataíde pediu para ver e eu mostrei o furo, constrangido. Ele mandou eu vir no dia seguinte, pois iria comprar um tênis novo para mim. No dia seguinte, o Professor Ataíde me chamou e disse: “Experimenta aí, moleque!” (risos). O tênis coube perfeitamente. Fiquei com vergonha de chorar na frente dele, ao mesmo tempo em que lembrava de minha mãe dizendo para não me esquecer de agradecer (risos).
Professor Afonso: Eu
sinto falta da confraternização entre os atletas, técnicos e demais envolvidos
na prática do esporte. Sou contra a atual premiação nas competições infantis,
tão usual nos dias de hoje.
Professor Ataíde: Um
dos problemas da prática desportiva nos dias de hoje é o perigo que um atleta
adolescente corre no caminho de ida e volta dos treinos, à noite, principalmente.
Canhão: Vale ressaltar que,
antigamente, os pais entregavam os filhos para os professores de educação
física e treinadores com grande confiança, como se esses mestres do esporte
fossem membros da família desses alunos e futuros atletas. O que o Professor
Ataíde fez por mim, por exemplo, também fez por outros. Ele tinha o olhar certo
para enxergar um futuro grande cidadão e atleta. Ele me ajudou também com
alguns puxões de orelha. (risos).
Professor Ataíde: Sim,
porque naquele época não era constrangedor ter tido a orelha puxada! (risos).
Canhão: Nossa sociedade mudou
pra melhor, mas muitos não enxergam as excelentes ferramentas que temos hoje a
serem usadas em prol da educação dos futuros cidadãos brasileiros. O Professor
Ataíde nos ensinou a usar a casa de fora e a casa de dentro. A casa de fora era
nossa escola e o nosso lar e a nossa casa de dentro era nossa disciplina e
nossa formação como homens. Enfim, ele nos dizia que se não fôssemos homens
íntegros, não seríamos grandes esportistas.
LUIZ CARLOS: Canhão,
fale para os nossos leitores, um pouco mais sobre essa consciência
socioambiental que acabou de citar. Como podemos viver em uma sociedade melhor,
utilizando de fato o esporte como ferramenta pedagógica?
Canhão: Posso dizer que, em
países desenvolvidos, mestres como Ataíde e Afonso são referências vivas para
futuros professores, quando esses cuidam dos seus pupilos. Os mestres Ataíde e
o Afonso formaram grandes atletas, por que não eram só professores ou técnicos,
mas também amigos e orientadores.
LUIZ CARLOS: Há
poucos dias, me encontrei com o Afonso, a caminho de um treino. Ele parecia
estar com a pressão baixa. Com seriedade, eu, Luiz Carlos, na hora do treino,
disse às suas atletas: “O Afonso é um patrimônio do esporte brasileiro. Por
favor, busquem-no em casa e o levem de volta, ao fim dos treinos.” Interessante
frisar que as meninas atenderam ao meu pedido. Levaram seu técnico e mestre
para casa com todo o cuidado e carinho que ele merece.
Canhão: Essa atitude das
alunas é essencial para a segurança pessoal de nossos mestres e também é uma
obrigação moral por quem tanto fez pelo nosso esporte. Entendo que atitudes
como essa mostram o reconhecimento que sentimos por esses valorosos
profissionais do esporte. Quero aproveitar a oportunidade e mais uma vez, agradecer
ao zelo e cuidado que você Ataíde, teve comigo. E, Afonso, digo que tenho por
você todo o respeito que você merece. Tudo o que ganhei no esporte, devo a mestres
como vocês.
Professor Afonso: Eu
fico triste por serem poucos os Canhões que existem por aí! (risos). Se hoje
sou o Professor Afonso e sou respeitado por meus alunos, é porque tenho vocês
do meu lado.
LUIZ CARLOS:
Professor Ataíde, por gentileza, você tem a palavra para fechar o nosso
encontro.
Professor Ataíde:
Primeiramente, agradeço as boas palavras e boas lembranças de vocês, amigos
aqui presentes. Sempre lutei muito para fazer as coisas que fiz, e hoje, o que
sou agradeço a meus alunos e atletas, aos meus amigos e a Deus, por ter me dado
saúde. Que Deus abençoe a todos nós.
Postado por Luiz Carlos Faria em 17/04/2014.
Assessora de Comunicação e Marketing Tarcilla Vieira.
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