quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Entrevista com o arquiteto Richard Lima


Luiz Faria: É um prazer muito grande estar com você. Além de amigos há muito tempo, tenho um grande respeito pela pessoa e mais ainda pelo profissional que você é. Somos de áreas afins: eu, na área da engenharia civil, e você, na arquitetura. Espero que este bate-papo acrescente conhecimento aos jovens estudantes dessas áreas, para que se deliciem com a sua carreira.
Richard: Mas nós sempre estivemos em campos completamente opostos, o engenheiro e o arquiteto. Mas não vou apontar agora as nossas diferenças. Deixa pra outra oportunidade (risos).

Luiz Faria: Richard, o que te levou à arquitetura?
Richard: Esse é um tipo de pergunta que faz a gente voar demais. Eu acredito que foi a minha preocupação estética ao observar o mundo que me levou à arquitetura.

Luiz Faria: Hoje, estávamos falando de mestres que inspiraram e orientaram nossas carreiras, como o professor Moacyr Laterza.
Richard: Poderíamos lembrar aqui uma frase importante dita pelo saudoso professor Laterza, que disse que “atrás de uma revolução técnica, há sempre uma revolução estética”. Gostaria de lembrar também o nome de Jefferson Lodi e dos irmãos Cláudio e Beto Naves, tão importantes na minha formação profissional e pessoal.

Luiz Faria: Quais foram seus primeiros passos como projetista, em Lavras?
Richard: Em Lavras, eu tive que fazer uma pequena laje e tinha visto, no Instituto Gama, uma feita de bambu, pois não havia ferro naquela época. Eu tinha 14 ou 15 anos. Foi isso que despertou meu interesse para a construção. Fiz um teste vocacional nos idos da década de 60, e, neste teste, deu arquitetura, engenharia, belas artes e psicologia. Depois de um tempo, em minha vida profissional, vi que o arquiteto tem um quê de psicólogo, já que o cliente transfere seus anseios para a obra e você tem que acessar o seu subconsciente para compor a melhor obra segundo anseios que muitas vezes este cliente tem, mas desconhece.

Luiz Faria: Richard, você está trazendo algo muito recente, que é compreender o que é a satisfação do desejo do cliente. Muitos hoje não conseguem fazer essa análise.
Richard: O que mais fiz até hoje foi projeto de residências. Os gastos e os sonhos do casal precisam caminhar juntos. Muitas vezes, o marido está preocupado com os gastos, e a mulher, com seu sonho de lar. Dentre essas duas extremidades, procuro encontrar um caminho harmonioso e conciliatório.

Luiz Faria: Você foi batizado por Rubem Alves! E o seu batismo na arquitetura, como foi?
Richard: É verdade, sim. Fui batizado pelo reverendo Rubem Alves. Mas, naquela época, eu não sabia que havia escola de arquitetura, pois vim para Belo horizonte estudar engenharia para construir casas. Na república, na avenida Getúlio Vargas tive muitos amigos. Imagine Lavras 50 anos atrás. Era uma cidade ainda incipiente, com poucas informações da cidade grande. Assim que eu soube da existência da escola de arquitetura em Belo Horizonte, fui fazer o vestibular. No meu registro no CREA, consta apenas minha formação como arquiteto, apesar de eu ter estudado também engenharia.

Luiz Faria: Você um dia me contou uma experiência interessante relatada pelo professor Paulo Henrique, quando ele passava perto de uma obra. Pode recontar para nós?
Richard: Sim. Ele disse que a limpeza da fachada da obra estava sendo feita com ácido e se preocupou com como esse produto podia estar afetando as fundações do prédio. Sua preocupação marcou minha formação acadêmica.

Luiz Faria: Você fez o projeto do Mineirinho, mas houve um problema com a acústica. O que de fato aconteceu?
Richard: O que fato aconteceu é que foi feito um projeto de acústica sim, de excelente qualidade. Mas esse projeto, por motivos alheios à vontade dos responsáveis por ele, na época não foi executado.

Luiz Faria: Eu vi em seu blog ideias muito interessantes. Pois, além da arquitetura, também há a presença da arte.
Richard: Sim, o meu blog richardlimaarteearquitetura.blogspot.com, é um lugar em que eu me expresso como arquiteto e o artista que sou.

Luiz Faria: O que mudou na arquitetura do início de sua profissão, chegando aos dias de hoje?
Richard: É interessante dizer que quando eu me formei em arquitetura, usava-se pensar no arquiteto e seu escritório. As coisas mudaram de lá pra cá. O arquiteto e seu escritório daquela época se transfmormaram nas empresa de arquitetura atuais. Cabe dizer que eu particularmente não me tornei um empresário da arquitetura. Não fiz essa transição profissional. Ainda sou reconhecido no mercado em que atuo como o arquiteto Richard Lima trabalhando em seu escritório.

Luiz Faria: Sua casa de Ouro Preto tem uma arquitetura bastante interessante. Fale dela pra nós.
Richard: Para mim, a arquitetura se diferencia de outras artes pela percepção do espaço que ela nos oferece. Acredito que a sensação de bem-estar que vocês sentiram foi pelo aproveitamento adequado do espaço e dos materiais usados no projeto, de minha autoria.

Luiz Faria: E como você chegou até esse conceito, posto acima?
Richard: Cheguei porque, no meu trabalho, a preocupação do uso coerente do espaço e dos materiais é de suma importância. Nos meus projetos, o que importa é que não moramos numa construção, mas, sim, num lar! Portanto, o que importa é que os moradores de uma casa sintam o conforto que essa casa como um lar pode lhe proporcionar.

Luiz Faria: Você acha que as exigências das leis de uso e ocupação de solo das cidades são sempre coerentes?
Richard: Nem sempre. Em Ouro Preto, por exemplo, a prefeitura exige que usemos, em nossas reformas, os mesmos materiais da época da construção que estamos reformando. Para o caso em questão, nem sempre temos disponível no mercado a madeira usada na construção original, e, muitas vezes, nem sequer temos uma madeira similar disponível para executarmos a reforma em andamento. No caso de reforma e manutenção do pavimento das ruas da cidade, encontramo-nos, muitas vezes, impossibilitados de manter o pavimento original de tais ruas, pois o tráfego atual das mesmas alterou substancialmente. Nesses dois casos, entendemos que a referida lei deveria se adaptar à realidade dos tempos atuais para que assim não venham inviabilizar as reformas em questão.

Luiz Faria: Tenho visto que muitos empreendimentos da consstrução civil atual são concebidos mais pela vontade do investidor e de quem vende tais investimentosl do que pelas necessidades e desejos de quem adquire tais empreendimentos.
Richard: Sim. Esse fato tem sido corriqueiro na construção civil e, com certeza, deverá ser reconsiderado.

Luiz Faria: Richard, fale para nós da arquitetura sob o ponto de vista dos sonhos do seu cliente.

Richard: Quando projetamos uma residência, temos que ver o sonho de cada pessoa que ali irá residir, levando-se em conta que esses sonhos mudam a cada sete anos, que nossos filhos crescem e não querem mais a decoração infantil da nossa casa feita para eles. Não podemos esquecer em nossos projetos que a cabeça de cada ser humano funciona de forma diferente em cada época e que a nossa razão e emoção também influenciam nossas escolhas. Por tudo isso temos que reprogramar nossos “computadores” internos para cada época em que vivemos. Assim um bom projeto arquitetônico deve levar em consideração todos fatos postos anteriormente.

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