Luiz Faria: É um
prazer muito grande estar com você. Além de amigos há muito tempo, tenho um
grande respeito pela pessoa e mais ainda pelo profissional que você é. Somos de
áreas afins: eu, na área da engenharia civil, e você, na arquitetura. Espero
que este bate-papo acrescente conhecimento aos jovens estudantes dessas áreas,
para que se deliciem com a sua carreira.
Richard: Mas nós sempre
estivemos em campos completamente opostos, o engenheiro e o arquiteto. Mas não
vou apontar agora as nossas diferenças. Deixa pra outra oportunidade (risos).
Richard: Esse é um tipo de
pergunta que faz a gente voar demais. Eu acredito que foi a minha preocupação
estética ao observar o mundo que me levou à arquitetura.
Luiz Faria: Hoje, estávamos falando de mestres que inspiraram e orientaram nossas carreiras, como o professor Moacyr Laterza.
Luiz Faria: Hoje, estávamos falando de mestres que inspiraram e orientaram nossas carreiras, como o professor Moacyr Laterza.
Richard: Poderíamos lembrar
aqui uma frase importante dita pelo saudoso professor Laterza, que disse que “atrás
de uma revolução técnica, há sempre uma revolução estética”. Gostaria de
lembrar também o nome de Jefferson Lodi e dos irmãos Cláudio e Beto Naves, tão
importantes na minha formação profissional e pessoal.
Luiz Faria: Quais
foram seus primeiros passos como projetista, em Lavras?
Richard: Em Lavras, eu tive que
fazer uma pequena laje e tinha visto, no Instituto Gama, uma feita de bambu,
pois não havia ferro naquela época. Eu tinha 14 ou 15 anos. Foi isso que
despertou meu interesse para a construção. Fiz um teste vocacional nos idos da
década de 60, e, neste teste, deu arquitetura, engenharia, belas artes e
psicologia. Depois de um tempo, em minha vida profissional, vi que o arquiteto
tem um quê de psicólogo, já que o cliente transfere seus anseios para a obra e
você tem que acessar o seu subconsciente para compor a melhor obra segundo
anseios que muitas vezes este cliente tem, mas desconhece.
Luiz Faria:
Richard, você está trazendo algo muito recente, que é compreender o que é a
satisfação do desejo do cliente. Muitos hoje não conseguem fazer essa análise.
Richard: O que mais fiz até
hoje foi projeto de residências. Os gastos e os sonhos do casal precisam
caminhar juntos. Muitas vezes, o marido está preocupado com os gastos, e a
mulher, com seu sonho de lar. Dentre essas duas extremidades, procuro encontrar
um caminho harmonioso e conciliatório.
Luiz Faria: Você
foi batizado por Rubem Alves! E o seu batismo na arquitetura, como foi?
Richard: É verdade, sim. Fui
batizado pelo reverendo Rubem Alves. Mas, naquela época, eu não sabia que havia
escola de arquitetura, pois vim para Belo horizonte estudar engenharia para
construir casas. Na república, na avenida Getúlio Vargas tive muitos amigos.
Imagine Lavras 50 anos atrás. Era uma cidade ainda incipiente, com poucas
informações da cidade grande. Assim que eu soube da existência da escola de
arquitetura em Belo Horizonte, fui fazer o vestibular. No meu registro no CREA,
consta apenas minha formação como arquiteto, apesar de eu ter estudado também
engenharia.
Luiz Faria: Você
um dia me contou uma experiência interessante relatada pelo professor Paulo
Henrique, quando ele passava perto de uma obra. Pode recontar para nós?
Richard: Sim. Ele disse que a
limpeza da fachada da obra estava sendo feita com ácido e se preocupou com como
esse produto podia estar afetando as fundações do prédio. Sua preocupação
marcou minha formação acadêmica.
Luiz Faria: Você
fez o projeto do Mineirinho, mas houve um problema com a acústica. O que de
fato aconteceu?
Richard: O que fato aconteceu é
que foi feito um projeto de acústica sim, de excelente qualidade. Mas esse
projeto, por motivos alheios à vontade dos responsáveis por ele, na época não
foi executado.
Luiz Faria: Eu vi
em seu blog ideias muito interessantes. Pois, além da arquitetura, também há a
presença da arte.
Richard: Sim, o meu blog
richardlimaarteearquitetura.blogspot.com, é um lugar em que eu me expresso como
arquiteto e o artista que sou.
Luiz Faria: O que
mudou na arquitetura do início de sua profissão, chegando aos dias de hoje?
Richard: É interessante dizer
que quando eu me formei em arquitetura, usava-se pensar no arquiteto e seu
escritório. As coisas mudaram de lá pra cá. O arquiteto e seu escritório
daquela época se transfmormaram nas empresa de arquitetura atuais. Cabe dizer
que eu particularmente não me tornei um empresário da arquitetura. Não fiz essa
transição profissional. Ainda sou reconhecido no mercado em que atuo como o
arquiteto Richard Lima trabalhando em seu escritório.
Luiz Faria: Sua
casa de Ouro Preto tem uma arquitetura bastante interessante. Fale dela pra
nós.
Richard: Para mim, a
arquitetura se diferencia de outras artes pela percepção do espaço que ela nos
oferece. Acredito que a sensação de bem-estar que vocês sentiram foi pelo
aproveitamento adequado do espaço e dos materiais usados no projeto, de minha
autoria.
Luiz Faria: E como você chegou até esse conceito, posto acima?
Luiz Faria: E como você chegou até esse conceito, posto acima?
Richard: Cheguei porque, no meu
trabalho, a preocupação do uso coerente do espaço e dos materiais é de suma
importância. Nos meus projetos, o que importa é que não moramos numa
construção, mas, sim, num lar! Portanto, o que importa é que os moradores de
uma casa sintam o conforto que essa casa como um lar pode lhe proporcionar.
Luiz Faria: Você
acha que as exigências das leis de uso e ocupação de solo das cidades são
sempre coerentes?
Richard: Nem sempre. Em Ouro Preto,
por exemplo, a prefeitura exige que usemos, em nossas reformas, os mesmos
materiais da época da construção que estamos reformando. Para o caso em
questão, nem sempre temos disponível no mercado a madeira usada na construção
original, e, muitas vezes, nem sequer temos uma madeira similar disponível para
executarmos a reforma em andamento. No caso de reforma e manutenção do
pavimento das ruas da cidade, encontramo-nos, muitas vezes, impossibilitados de
manter o pavimento original de tais ruas, pois o tráfego atual das mesmas
alterou substancialmente. Nesses dois casos, entendemos que a referida lei deveria
se adaptar à realidade dos tempos atuais para que assim não venham inviabilizar
as reformas em questão.
Luiz Faria: Tenho visto que muitos empreendimentos da consstrução civil atual são concebidos mais pela vontade do investidor e de quem vende tais investimentosl do que pelas necessidades e desejos de quem adquire tais empreendimentos.
Richard: Sim. Esse fato tem
sido corriqueiro na construção civil e, com certeza, deverá ser reconsiderado.
Luiz Faria:
Richard, fale para nós da arquitetura sob o ponto de vista dos sonhos do seu
cliente.
Richard: Quando projetamos uma
residência, temos que ver o sonho de cada pessoa que ali irá residir, levando-se
em conta que esses sonhos mudam a cada sete anos, que nossos filhos crescem e não
querem mais a decoração infantil da nossa casa feita para eles. Não podemos
esquecer em nossos projetos que a cabeça de cada ser humano funciona de forma
diferente em cada época e que a nossa razão e emoção também influenciam nossas
escolhas. Por tudo isso temos que reprogramar nossos “computadores” internos
para cada época em que vivemos. Assim um bom projeto arquitetônico deve levar
em consideração todos fatos postos anteriormente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário